quinta-feira, 10 de dezembro de 2009





Fora Arruda e PO!!!!!!






O mais novo escândalo da política nacional, envolvendo o governador do DF José Arruda e toda uma legião de deputados e assessores, é uma mostra cabal de como a política brasileira é recheada de pessoas “da mais ilibada conduta moral”.
Afinal de contas, o pobre do José Arruda recebia um “paco” de dinheiro para comprar panetones para as festas de natal e ano novo dos eleitores carentes do DF. Um homem preocupado com a população pobre e imbuído do mais profundo espírito natalino não pode jamais ser um corrupto.
Era sim uma vítima indefesa e completamente a mercê de seu algoz; o vilão Durval Barbosa. Um cara qualquer sem qualquer ligação com ele e com os demais envolvidos. Alguém que, para escapar de vários processos, ousou manchar a honra de tão vultoso expoente da política nacional.
Bom. Vamos deixar o sarcasmo para lá porque à vontade de vomitar anda grande e a criatividade anda devagar. Este caso é mais um dos inúmeros casos da política nacional que revelam apenas a suprema verdade que rege os homens públicos no Brasil de hoje: Não há santos.
Longe de igualar a imagem de José Arruda a de um santo político, muito pelo contrário, sempre envolvido em denúncias e com a sua lisura posta em dúvida inúmeras vezes, o político de Brasília mostra como é bom e como é fundamental para um político calejado ter um discurso pronto em mãos, para negar o inegável e revogar o irrevogável.
O discurso de José Arruda, ao ser apanhado com as calças na mão, beira ao surreal e a mais tosca obra de ficção amadorística. Ao dizer estar perplexo pelo ato de torpe vilania de que foram vítimas (ele e seu vice), Arruda mostra como o bom político brasileiro tenta esconder a cabeça na terra e fazer-se de vítima sempre que é apanhado com as calças na mão. Não satisfeito, ele continua, ainda defendendo a si mesmo e a seu vice: “(…) vimos externar À população do DF nossa indignação pela trama de que estamos sendo vítimas, engendrada por adversários políticos (…)” – o blá, blá, blá continua com um arremate de gênio – “(…) urdiu, de forma capciosa e premeditada, versão mentirosa dos fatos para tentar manchar o trabalho sério e bem sucedido que tem sido feito pela nossa administração”. Quem lê a nota criada por algum assessor bem pago, pode até ficar com pena se não tiver visto as imagens e nem tomado conhecimento das apreensões feitas pela PF nos gabinetes e nas casas dos envolvidos. Como político com larga experiência no que faz, Arruda adota a negação como tática única e ampla em sua defesa. É como aquela velha história: se for apanhado; negue. Negue sempre. Negue até que é você nas imagens e que a voz que ouvimos nas gravações lhe pertençam. Negue tudo e sempre. Negue tão veementemente que até os virem e ouvirem; acreditarão em você.
E, essa técnica, tem ajudado a eleger e a reeleger muita gente boa que está no governo hoje.
Por outro lado; há os “marinheiros de primeira viagem”. Aqueles ainda inexperientes ou em processo de aprendizado. Estes tentam negar o óbvio com afirmações absurdas, e sem qualquer nexo, incapazes de criar aquela dúvida salvadora na cabeça do eleitor e, muito menos, limpar a cara de qualquer pessoa. Um secretário e corregedor (piada?) do governo do DF disse, tentando limpar a cara de Arruda, que o dinheiro embolsado pelo chefe no vídeo é para “comprar panetones” para o pessoal carente. Outro, o diretor presidente da Cia Habitacional do DF, disse que o dinheiro que recebeu foi usado para “tirar fotografias” para carteiras de identidade de moradores carentes. Paulo Pestana, um assessor de Arruda, disse ter recebido o dinheiro para “pagar condomínios”.
Amadores e suas respostas inverossímeis. Eles têm tanto o que aprender com os grandes expoentes da política nacional.
A “cereja do bolo” da nota de José Arruda é a afirmação de ter sofrido chantagem do assessor desde antes de assumir o governo do DF. Mas, se isso for mesmo verdade e tudo não passar de uma mentira “urdida” (como ele disse) para destruí-lo; por que Arruda não denunciou a chantagem e toda a farsa para a Polícia Federal? Por que não expôs o chantagista e desmascarou todo o esquema de seus adversários políticos que tentavam arruinar a sua carreira? Ora, caro leitor, os fatos, as imagens e o áudio falam por si só.
E você; pensa o que?








Arthurius Maximus nasceu no Rio de Janeiro; tem 40 anos; é casado; e tem três filhos. Ex-fuzileiro naval deixou a caserna para dedicar-se aos estudos. Paradoxalmente, abandonou a faculdade de letras na UERJ para trabalhar com informática. Iniciou a vida profissional nessa área e após vinte anos de serviços prestados e várias promoções, atingindo um excelente patamar salarial e de respeitabilidade, viu-se acometido por uma doença grave; causada pelo excesso de trabalho e pelo descaso da empresa com as normas de segurança laborativa. Foi condenado pelos médicos e impedido de continuar sua ascensão profissional. A partir deste episódio, conheceu o lado negro das corporações e iniciou uma grande luta para expô-lo e para ajudar aos que se encontravam NA MESMA SITUAÇÃO.










A manifestante Mira Maia,


varre a Câmara.











sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
71
02/06/1974

Em 1966, quando um trágico acidente automobilístico na estrada de Itapeba, Rio de Janeiro, provocou a morte da cantora Silvinha Telles, aos 32 anos de idade, a música brasileira perdeu uma das suas intérpretes mais sensíveis. Poucas vocalistas souberam entender tão bem a Bossa Nova como Silvinha, que estreou cantando o samba "Amendoim Torradinho", na revista "Gente Bem & Champanhota", encenada no Teatro Jardem em 1955.

Na Primeira fase da Bossa Nova, fez um lp histórico e básico: "Amor de Gente Moça" (Odeon 3084), com músicas de Antônio Carlos Jobim e arranjos do maestro Lindolfo Gaya, que por sua importância será reeditado pela Evento. Deixando a Odeon e passando para a Philips, ali faria "Amor em Hi-Fi" (Philips, 630419) e "Silvia Telles U.S.A." - este gravado em Hollywood, quando ali esteve pela primeira vez, com a criação da Elenco pelo então seu marido Aloysio de Oliveira, Sylvinha faria "Bossa/Balanço/Balada", verdadeiro cartão de visitas da Bossa Nova, pois poucas vezes se reuniu num só lp tantos temas fascinantes. Posteriormente, retornando aos EUA, ainda com Aloysio, gravaria outros lps excelentes como "It Might As Well Be Spring" (Elenco MEV-11) "The Music of Mr. Jobim by Sylvia Telles" (MEV 5), foi gravado no Brasil especialmente para exportação, a pedido da Kapp Records dos EUA.

Mas de todos os seus discos, a Phonogram não poderia ser mais feliz ao escolher este "Bossa, Balanço, Balada" como volume 7 da Edição Histórica (Fontana Special, 6470 517, maio/74).

Com toda a sensibilidade que Deus lhe deu e ela soube sempre bem utilizar, Silvinha nos dá neste lp 34 minutos de encantamento, com uma seleção que dificilmente poderia se repetir. Não há dúvida que só por reedição e mais o "Canção do Amor Demais" com Elizeth Cardoso, a Phonogram já neutraliza todas as concessões comerciais que seja obrigada a fazer neste ano.

Não é preciso comentar as faixas. Basta relacionar seus títulos e autores: "Dindi" (Jobim/Aloysio de Oliveira), "Samba do Avião" (Jobim), "Preciso Aprender a Ser Só" (Marcos/Paulo Sérgio Valle), "Rio" (Roberto Menescal/Ronaldo Boscoli), "Insensatez" (Jobim/Vinícius), "Samba de Uma Nota Só" (Jobim/Mendonça), "Vagamente" (Menescal/Boscoli), "Corcovado" (Jobim/Vinícius), "Amor e Paz" (Jobim/Vinícius), "Primavera"(Carlos Lyra/Vinícius), "Se É Tarde Me Perdoa" (Lyra/Ronaldo Boscoli), "Eu Preciso de Você" (Jobim/Aloysio de Oliveira).

noel2. Ano marcado por grandes transformações, prenunciadas com a passagem do Cometa de Halley. Entre outros fatos: a Revolta da Chibata, liderada pelo “Almirante Negro”, João Cândido, cujo motim ameaçou bombardear o Rio de Janeiro, e o nascimento de Noël de Medeiros Rosa, popularmente conhecido como Noël Rosa, em 11 de dezembro. A partir deste dia, a música popular brasileira nunca mais seria a mesma.

O pai era um amante da cultura francesa. Pela proximidade com o período das festas natalinas deu ao filho o nome de Noël, termo que equivale a Natal entre os franceses. Também era tradição no bairro de Vila Isabel, no período natalino, passar o rancho, quando todos iam ouvir o canto das “Pastorinhas”.

Desde sua infância, Noël se revelava irreverente. Ele era da rua. Na escola, gostava das piadas proibidas e das brincadeiras obscenas. Começou estudando numa escola pública, e, depois se transferiu para o tradicional São Bento, onde imperavam os rigores educacionais.

A rua e os seus tipos eram a sua grande paixão. “Poeta-cronista” da cidade; cidade que cabia em Vila Isabel. Bairro síntese dos personagens cariocas: os pequenos burgueses, o bicheiro, os malandros, o seresteiro, o sinuqueiro, o carteador, o mendigo, o vigarista, o proxeneta, o valentão, entre tantos outros.

Noël preferia a luz das estrelas à luz solar. Ele acompanhava os cantores da madrugada com o seu inseparável violão. Ficou conhecido pelo bairro. No ano de 1929, um grupo formado por jovens de classe média do conjunto musical
Flor do Tempo o convidou para formar um novo grupo: o Bando dos Tangarás, grupo composto por Almirante, Braguinha, Henrique Brito e Alvinho. O conjunto se dedicou à moda da época: a música nordestina; emboladas; sambas com tempero do nordeste; embora, seus trajes e sotaques mais pareciam de caipiras. A indústria e o comércio fonográfico cresciam bastante no Rio de Janeiro, quando foram convidados para gravar pela Parlophon, subsidiária da Odeon.

A inserção no Bando dos Tangarás abriu o caminho para Noël iniciar sua carreira como compositor popular. Ainda em 1929, ele escreveu a sua primeira composição, uma embolada, intitulada “Minha Viola”.

Noël Rosa tinha grande admiração por Sinhô, freqüentador assíduo da Casa da Tia Ciata, localizada na Praça Onze, onde os batuques do samba, influenciado pelo maxixe, ecoavam livremente. O “Poeta da Vila”, contudo, se integrou a outro tipo de samba, que veio do bairro do Estácio, onde vivia Ismael Silva, e se espalhou pelos morros da cidade como Salgueiro, Mangueira, Favela, Saúde, Macacos. Noël subiu o morro e se integrou aos sambistas que lá viviam e compôs com alguns deles, como Cartola, do morro da Mangueira, e Canuto e Antenor Gargalhada, do Salgueiro. O “poeta” e Francisco Alves (que juntos fizeram parceria no grupo
Ases do Samba) foram os maiores responsáveis pela consagração de diversos compositores negros de samba.

Este tipo de samba que veio do Estácio, mais marcheado e acompanhado por instrumentos de percussão, era aquele tocado nos blocos, como o “Deixa Falar”, que deu origem à primeira “Escola de Samba”. No carnaval de Vila Isabel havia dois blocos: o Cara de Vaca, organizado, com componentes selecionados e cercados por um cordão de isolamento, e o Faz Vergonha, composto por populares e com sambas improvisados, do qual fazia parte Noël Rosa. As batalhas de confete no Boulevard eram o ponto alto do desfile de blocos.

Desde a adolescência, Noël adorava as serenatas e serestas. O local favorito das noitadas era o cruzamento do
Ponto dos Cem Réis, em Vila Isabel, onde os bondes “mudavam de seção”, ponto de botequins e esquinas. Era ali que se reunia com os amigos e tomava a sua cerveja preferida, a Cascatinha. No Café Vila Isabel, ele compôs a maior parte das suas composições. De bar em bar, em “Conversa de Botequim”, e de amores em amores, como o que sentia por Fina, para quem fez “Os Três Apitos”, teceu suas canções. Freqüentava também os prostíbulos do Mangue, e era fascinado pelos malandros, homens que exploravam as mulheres, minas ou mariposas, e viviam da jogatina. Na Lapa chegou a conhecer o famoso Madame Satã, como também Ceci, a sua “Dama do Cabaré”.

O ano de 1930 mudou a história do Brasil e a vida de Noël Rosa. Na política nacional, Getúlio Vargas assumiu a presidência do país por meio da chamada Revolução de 30. Nosso “Poeta” gravou o seu primeiro samba de sucesso: “Com que Roupa?”, que fazia alusão, de forma humorada, a um Brasil de tanga, ilhado em pobreza, a fome e a miséria alastrando-se como praga, conseqüência imediata da crise da bolsa de Nova York que abalou o mundo inteiro. O samba conquistou a cidade. A composição de sucesso passou a integrar o programa de diversas peças do teatro de Revista, todas encenadas nos palcos da Praça Tiradentes, que vivia dias de fulgor e esplendor. No mesmo ano, conseguiu ser aprovado no vestibular para a Faculdade de Medicina.

Contudo, ficou insatisfeito com o curso e abandonou-o. Ainda assim compôs “Coração”, conhecido como “um samba anatômico”. O “novo regime” de Vargas e suas medidas governamentais também não passariam desapercebidas pelo compositor, ganhando tons de crítica bem humoradas nas letras de alguns de seus sambas como “O Pulo da Hora” ou “Que Horas São?” sobre a criação do horário de verão; “Psilone” composto em função da nova reforma ortográfica; “Samba da Boa Vontade”, sobre o pedido de Vargas aos brasileiros para manter o sorriso, mesmo num momento de crise; e, ainda “Tenentes...do Diabo”, samba jocoso quanto aos tenentes getulistas, rivais dos “Democratas”

No começo de 1934 teve início a famosa polêmica envolvendo os compositores Noël Rosa e Wilson Batista. Este último compôs “Lenço no Pescoço”. Noël rebateu com “Rapaz Folgado”. Em resposta, Wilson compôs “Mocinho da Vila”. Ainda no mesmo ano, no período da primavera, Noël compôs “Feitiço da Vila”, uma homenagem para a rainha primaveril de Vila Isabel, Lela Casatle. Samba que colocou Noël em evidência, uma vez que o Brasil inteiro cantou a composição. A polêmica deu uma trégua e reacendeu no ano seguinte. O sucesso do “Filósofo do Samba” incomodou Wilson Batista, que gravou “Conversa Fiada”. Noel reagiu com “Palpite Infeliz”. Wilson respondeu com dois novos sambas: “Frankstein da Vila” e “Terra de Cego”.

Os anos trinta foram a chamada
Era do Rádio, consagrada com a criação da Rádio Nacional. Em pouco tempo, o país inteiro ouviria suas rádio-novelas, seus programas de auditório e viria surgir muitas estrelas da nossa música, as chamadas cantoras do rádio. Aracy de Almeida e Marília Baptista foram as maiores intérpretes das canções de Noël. Este também atuou no rádio. No Programa do Casé, de Adhemar Casé, na Rádio Philips, Noël cantava e trabalhava como contra-regra. E, em 1935, Almirante conseguiu-lhe um emprego na Rádio Clube do Brasil, trabalhando como libretista no programa “Como se as óperas célebres do mundo houvessem nascido aqui no Rio”. Escreveu o libreto da ópera “O Barbeiro de Niterói”, uma paródia ao “Barbeiro de Sevilha”. Fez também as revistas radiofônicas “Ladrão de Galinhas” e a “Noiva do Condutor”. As composições de Noël também foram utilizadas no cinema. EmAlô, Alô, Carnaval (1936), compôs “Pierrot Apaixonado”, em parceria com Heitor dos Prazeres. Para o filmeCidade Mulher (1936), ele compôs seis músicas, dentre as quais “Tarzan, Filho do Alfaiate”, em parceria com Vadico.

No ano de 1937, os céus do Brasil foram atravessados pelo cometa de Hermes. Os cometas inspiraram durante milénios profundos temores na humanidade, que os considerava sinais divinos de maus presságios. O medo persistia. Foi assim com o cometa de Halley naquele ano de 1910 e voltou a ser vinte sete anos depois. E, de fato, realmente foi. Na noite do dia 04 de maio, no mesmo chalé onde nasceu na rua Theodoro da Silva, em Vila Isabel, faleceu Noël Rosa, acometido pelo “mal do século”.

Da mesma forma que nasceu num ano turbulento, Noël disse “Adeus” num ano de grandes transformações, cumprindo assim um ciclo de mudanças. Ele mudou a história da música popular brasileira. As serestas e serenatas aqui na Terra não seriam mais as mesmas sem a sua presença. Uma outra “Festa no Céu” faria ele entre anjos e arcanjos. Para sua felicidade, não viu a instalação do Estado Novo, com seu caráter repressivo e censurador, nem mesmo a chegada do “Tio Sam”. Não viu também a vida boêmia da Lapa ser susbtituída pelas boates chiques de Copacabana, onde Aracy de Almeida o imortalizou. Também não teve o prazer de ver a fundação do GRES Unidos de Vila Isabel, Agremiação carnavalesca do bairro que tanto cantou. No firmamento do samba, assim como a estrela Dalva, a estrela de Noël, finalmente, no céu despontou e jamais se apagou. Foi o seu “Último Desejo”. Por isso, cantamos: “Quem nasce lá na Vila, nem sequer vacila, ao abraçar o samba”. Saudades de ti, Noël!!!


Carnavalesco
: Alex de Souza
Autores do Enredo: Alex de Souza, Alex Varela (historiador) & Martinho da Vila.
Texto da Sinopse: Alex Varela

Bibliografia:

CABRAL, Sérgio. No Tempo de Almirante. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1991.
. As Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Lumiar Editora, 1996.
CALDEIRA, Jorge.
A construção do Samba. São Paulo: Mameluco, 2007.
MÁXIMO, João; DIDIER, Carlos.
Noel Rosa: Uma biografia. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1990.
Gostaríamos de registrar um agradecimento especial aos jornalistas João Máximo e Sérgio Cabral que colaboraram para a pesquisa e elaboração do enredo.

Nara Leão









Nara Leão, a musa desbravadora
Biografia enfatiza pioneirismo de Nara Leão, morta há 20 anos

Mauro Ferreira

Nara Leão (1942 – 1989) ficou na história da música como a “musa da Bossa Nova”. Contudo, a engajada atuação da cantora nos anos 60, quando o movimento bossa-novista gerou dissidentes descontentes com a “alienação” da turma do “amor, do sorriso e da flor”, foi decisiva para a projeção de nomes como Cartola (1908 – 1980), Chico Buarque e Edu Lobo. Essa faceta desbravadora de Nara é enfatizada pelo autor Cássio Cavalcante na biografia
A Musa dos Trópicos (Companhia Editora de Pernambuco, 688 págs., R$ 50). O livro chega ao mercado no momento em que a morte de Nara completa 20 anos. Em 7 de junho de 1989, complicações decorrentes de um câncer no cérebro calaram a voz miúda que se agigantou ao gravar discos que romperam com as então rígidas fronteiras estéticas da MPB.

Ao rememorar o impacto que cada disco e show de Nara obtiveram na época, o escritor enfatiza as ousadias estilísticas da intérprete que, nos anos 70, foi a primeira a dedicar um álbum (...E que Tudo Mais Vá pro Inferno, 1978) ao repertório de Roberto Carlos, cantor então visto com ressalvas pela elite da MPB. “Nara foi a primeira cantora branca da zona sul carioca a revalorizar o samba de morro, foi a porta-voz dos intelectuais quando se tornou cantora de protesto”, historia Cássio.